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Análise

A profecia de Jesus que ninguém entendeu

Como Cristo profetizou, de forma misteriosa, um evento marcante (e ignorado) da história do povo de Deus.

Olá, tudo bem?

Ao finalizar a leitura desse texto, você terá aprendido lições interessantes sobre linguagem profética, a história do povo de Israel e o ministério de Jesus como Messias.

Porém, o aprendizado mais importante de todos será sobre a interpretação de uma das profecias menos conhecidas de Cristo. Na verdade, muita gente nem sabe que se trata de uma profecia.

Então vamos lá!

O DILEMA:

Quando lemos a palavra de Deus, muitas vezes não conseguimos entender muito bem alguns trechos. Eu, pelo menos, nunca achei fácil a leitura dos profetas. Felizmente, a cada vez que lemos a Bíblia de forma atenta, aprendemos algo útil para nossa vida e para o aprendizado da doutrina cristã.

Um dos pontos que mais me fascinam é como o Novo Testamento explica algumas porções do Antigo Testamento.

Para mim, essas partes contém um verdadeiro presente para quem quer entender a Palavra de Deus: são literalmente uma aula de interpretação bíblica com o Espírito Santo.

Hoje gostaria de compartilhar algo que percebi no Evangelho de Mateus, naquela passagem sobre o por quê Jesus pregava em parábolas.

Nela, temos um segredo interessante, mas são poucos os cristãos que conseguem perceber uma profecia “discreta” do Senhor Jesus a partir da profecia de Isaías. O texto diz:

“Então os discípulos se aproximaram de Jesus e lhe perguntaram: 

— Por que o senhor fala com eles por meio de parábolas?
 Ao que Jesus respondeu: 

— Porque a vocês é dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas àqueles isso não é concedido.
 Pois ao que tem, mais será dado, e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.
 Por isso, falo com eles por meio de parábolas: porque, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem.
 Assim, neles se cumpre a profecia de Isaías: “Ouvindo, vocês ouvirão e de modo nenhum entenderão; vendo, vocês verão e de modo nenhum perceberão.
 Porque o coração deste povo está endurecido; ouviram com os ouvidos tapados e fecharam os olhos; para não acontecer que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados.”

Mateus 13:10–15

Então, o que o Senhor quis dizer? Bem, existe algo no texto que é óbvio: não era a intenção de Cristo salvar aqueles que haviam se mantido incrédulos durante seu ministério, e o reconheciam somente como um Mestre, e não como o Filho de Deus.

Mas o texto não faz só essa aplicação. Na verdade, o Senhor diz que aquela incredulidade era o cumprimento do que profetizou Isaías. Em Isaías 6, nós lemos:

“Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia:

— A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Eu respondi:

— Eis-me aqui, envia-me a mim.
 Então ele disse:

— Vá e diga a este povo: ‘Ouçam; ouçam, mas sem entender. Vejam; vejam, mas sem perceber.’
 Torne insensível o coração deste povo, endureça-lhes os ouvidos e feche os olhos deles, para que não venham a ver com os olhos, ouvir com os ouvidos e entender com o coração, e se convertam, e sejam curados.
 
Então eu perguntei: ‘Até quando, Senhor?’ Ele respondeu: ‘Até que as cidades estejam em ruínas e fiquem sem habitantes, as casas fiquem sem moradores e a terra esteja em ruínas e devastada, e o Senhor afaste dela o povo, e no meio da terra sejam muitos os lugares abandonados.
 Mas, se ainda ficar a décima parte dela, tornará a ser destruída. Como o terebinto e como o carvalho, dos quais, depois de derrubados, ainda fica o toco, assim a santa semente será o seu toco.’-

Isaías 6:8–13, NAA

É nesse momento que você deve estar pensando: “mas pera aí, esse texto não está falando de um futuro distante, e sim do próprio ministério de Isaías como profeta! Como assim Jesus disse que Isaías estava profetizando sobre ele?”

Na primeira vez que li Isaías, fiquei bastante confuso também.

Como um cristão deve fazer quando não entende um texto da Palavra, anotei a seguinte nota:

“Prediz a cegueira dos judeus sob o Cristo”.

Eu bem sabia que aquilo não era tudo que havia para descobrir. Mas eu não tinha o conhecimento para compreender como Isaías estava profetizando sobre seu próprio tempo mas, de alguma maneira, isso também remetia de forma mais profunda no Ministério de Jesus.

Eu também não estava satisfeito em simplesmente dizer “DUPLO CUMPRIMENTO!!” e seguir adiante. Só que não sabia como interpretar adequadamente o texto.

O que fazer? Eu poderia ter caçado a explicação em um monte de comentários, mas me pareceu uma tarefa muito cansativa.

Deixei isso pra lá, e continuei minha agradável leitura do profeta.

Outro dia, mais de um ano depois, creio que finalmente entendi porque o Senhor quis citar especificamente essa profecia de Isaías.

A interpretação que encontrei parece extremamente realista e talvez já tenha sido defendida por alguns comentaristas ao longo da história, mas não tenho certeza. Foi meio chocante, e exigiu alguns conhecimentos de outras áreas que talvez você não tenha tido contato ainda.

Felizmente, vou passar para você as informações relevantes para resolver esse dilema.

Para entender o que foi dito por Jesus, precisaremos refletir rapidamente sobre a história de Israel, a condição da religião judaica no tempo do Senhor e, por fim, o Ministério do Messias em relação a isso.

Uma história, no mínimo, complicada:

Se você acha que sua esposa é uma péssima esposa, você, sinceramente, nunca ouviu falar de Israel. Em diversos momentos, Deus chama Israel de Esposa, por causa da relação pactual que havia entre Yahweh (o Deus da Aliança) e o povo. Vou mostrar dois exemplos:

“Porque o seu Criador é o seu marido; Senhor dos Exércitos é o seu nome. O Santo de Israel é o seu Redentor; ele é chamado ‘O Deus de toda a terra’.”

Isaías 54:5

“Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração.
 E ali eu lhe devolverei as suas vinhas e farei do vale de Acor uma porta de esperança. Ali ela me responderá como nos dias da sua mocidade e como no dia em que saiu da terra do Egito.
 Naquele dia”, diz o Senhor, “ela me chamará de ‘Meu Marido’, e não me chamará mais de ‘Meu Baal’.
 Removerei da sua boca os nomes dos baalins, e ela não mais se lembrará desses nomes.
 Naquele dia, farei a favor dela uma aliança com os animais selvagens… Farei de você minha esposa em fidelidade, e você conhecerá o Senhor”

Oséias 2:14

Observe que ambos os textos identificam Deus como marido de Israel, Seu Povo.

No texto de Oséias, inclusive, vemos um prenúncio do dia em que o Deus faria com Israel uma nova aliança de casamento, o que vemos cumprido na morte, ressurreição e ascensão do Senhor Jesus Cristo, e na formação de um novo povo, a Igreja da Nova Aliança.

Na história de Israel, porém, vemos diversos momentos em que o amor do Senhor foi traído, e o povo buscou outros deuses para adorar. Dessa forma, a idolatria e a maldade do povo fizeram com que Deus punisse os israelitas com o primeiro exílio, que culminou na destruição do templo e na desintegração da nação israelita no ano de 587 a.C pelo poder dos babilônicos.

Quando o Senhor os trouxe de volta para a terra, eles tiveram que trabalhar para reconstruir o templo destruído (Neemias, Esdras, Ageu e Zacarias falam disso em seus livros, que estão na Bíblia), que era o sinal da Aliança Sagrada entre Deus e Israel.

Note que, se o templo era destruído, o povo se via sem sinal da presença divina em Seu meio e na Terra que Ele havia prometido.

Com o retorno do povo de Deus para a terra de Israel, o espírito agora tendeu a ser outro.

Após um certo período, marcado em parte por grandes exemplos de fidelidade ao Senhor (como na história dos Macabeus, relatado nos livros não-canônico de Macabeus 1 e 2, que lutaram uma guerra para poderem praticar a religião mosaica) quanto por casos em que a religião se tornou uma simples somas de regras externas com aparência de piedade, como era no farisaísmo, que predominava no primeiro século.

Então, quando nos aproximamos dos tempos de Jesus, a religião entre os judeus era meramente isso: ritos externos, aparência de justiça, e só. Lembra das (muitas) regras que eles tinham sobre o sábado? E sobre como eles consideravam as tradições dos seus mestres mais importantes que a própria lei (Marcos 7:6–8)? Esse era o problema deles.

Perceba: o pecado que levou ao primeiro exílio do povo, isto é, o pecado contra o mandamento de amar o Senhor com toda a alma, coração e poder (Deuteronômio 6:5), estava sendo repetido, só que de forma diferente.

Isso é fundamental para entender todo o ministério de Cristo e também a citação que ele fez de Isaías 6.

Porém, para alcançarmos uma conclusão mais profunda sobre o texto de Mateus 13, precisamos antes fazer uma última reflexão: qual era a missão do Messias em relação a esses problemas?

O último profeta de Israel antes do Novo Testamento, que profetizou mais ou menos quatrocentos anos antes de Cristo, ensinou o seguinte:

“ — Pois eis que vem o dia, queimando como fornalha. Todos os soberbos e todos os que praticam o mal serão como a palha; o dia que vem os queimará, diz o Senhor dos Exércitos, de modo que não lhes deixará nem raiz nem ramo.
 
Mas para vocês que temem o meu nome nascerá o sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas. Vocês sairão e saltarão como bezerros soltos da estrebaria.
 Vocês pisarão os ímpios, pois eles se farão cinzas debaixo das plantas dos pés de vocês, naquele dia que prepararei, diz o Senhor dos Exércitos.
 — Lembrem-se da Lei de Moisés, meu servo, a qual lhe prescrevi em Horebe para todo o Israel, a saber, estatutos e juízos.
 — Eis que eu lhes enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do Senhor.
 Ele converterá o coração dos pais aos seus filhos e o coração dos filhos aos seus pais, para que eu não venha e castigue a terra com maldição.”-

Malaquias 4:1–6

Vemos então que o Messias deveria vir trazendo salvação e juízo sobre os violadores da Aliança do Senhor, e, ao mesmo tempo deveria preservar para Deus uma parte do povo que ouvisse a Palavra.

Ok, entendi. Mas e agora? O que que isso tem a ver com Isaías 6 e Mateus 13?

Bem, você talvez já tenha entendido a relação.

Tanto Isaías quanto Jesus deveriam pregar para um povo que era ímpio e cujo coração estava longe do Senhor.

Em ambos os ministérios, Deus não converteria muitas pessoas, mas poucas.

Certo, mas onde isso nos leva?

Bem, vamos um pouco mais longe então, relacionando agora a profecia de Isaías com a de Malaquias. Mudarei as partes em negrito para facilitar o nosso raciocínio:

“ — Vá e diga a este povo: ‘Ouçam; ouçam, mas sem entender. Vejam; vejam, mas sem perceber.’
 Torne insensível o coração deste povo, endureça-lhes os ouvidos e feche os olhos deles, para que não venham a ver com os olhos, ouvir com os ouvidos e entender com o coração, e se convertam, e sejam curados.
 Então eu perguntei:

‘Até quando, Senhor?’

Ele respondeu: ‘Até que as cidades estejam em ruínas e fiquem sem habitantes, as casas fiquem sem moradores e a terra esteja em ruínas e devastada,
e o Senhor afaste dela o povo, e no meio da terra sejam muitos os lugares abandonados.
 Mas, se ainda ficar a décima parte dela, tornará a ser destruída
. Como o terebinto e como o carvalho, dos quais, depois de derrubados, ainda fica o toco, assim a santa semente será o seu toco.’”

Isaías 6:9–13

“ — Pois eis que vem o dia, queimando como fornalha. Todos os soberbos e todos os que praticam o mal serão como a palha; o dia que vem os queimará, diz o Senhor dos Exércitos, de modo que não lhes deixará nem raiz nem ramo.
 
Mas para vocês que temem o meu nome nascerá o sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas. Vocês sairão e saltarão como bezerros soltos da estrebaria.
Vocês pisarão os ímpios, pois eles se farão cinzas debaixo das plantas dos pés de vocês, naquele dia que prepararei, diz o Senhor dos Exércitos.
 — Lembrem-se da Lei de Moisés, meu servo, a qual lhe prescrevi em Horebe para todo o Israel, a saber, estatutos e juízos.
 — Eis que eu lhes enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do Senhor.
Ele converterá o coração dos pais aos seus filhos e o coração dos filhos aos seus pais, para que eu não venha e castigue a terra com maldição.”-

Malaquias 4:1–6

Jesus Cristo nos ensinou durante seu ministério que João Batista era o Elias que deveria vir para pregar ao povo o arrependimento e a remissão dos seus pecados (Mateus 17:12–13).

Portanto, como os judeus não ouviram nem Elias nem o Cristo, eles haviam acabado de se condenar à destruição.

Mais uma vez, como ocorreu no primeiro exílio, as cidades de Israel ficariam em ruínas, o templo de Jerusalém seria destruído e grande parte do povo seria devastado pela ira de Deus.

Então seria esse o fim? Será que Deus não mais teria uma aliança com um povo? Analisemos as profecias, para ver se elas trazem alguma luz a essa questão.

Isaías disse que depois daquela terrível destruição da maior parte do povo, ainda sobraria alguma esperança. Uma santa semente, a qual seria o toco de uma árvore frondosa.

Malaquias prometeu que, quando viesse o dia da ira de Deus sobre a nação de Israel (leve em conta que Isaías profetizou sobre a primeira destruição, Malaquias profetizou quatro séculos antes da vinda de Cristo, quando o povo já estava de volta na Terra), os justos seriam salvos do julgamento terrível de Deus.

Então podemos ter certeza de que o Pai ainda teria um povo após seu juízo sobre Jerusalém.

Você está vendo como tudo se encaixa? Espero que sim.

Portanto, podemos agora chegar a uma conclusão.

O motivo que levou o Senhor Jesus a citar o profeta Isaías foi esse: ele queria mostrar discretamente aos seus discípulos que estava próximo o dia em que o templo de Jerusalém seria novamente destruído e que a nação Israelita seria desfeita, não mais participando da Aliança Sagrada!

Do meio dessa destruição, Deus tiraria para si um povo que fosse fiel ao seu nome (a santa semente em Isaías e os justos que florescem em Malaquias). E, com isso, Deus poderia ter para si um povo que lhe agradasse, que é a Igreja do Novo Testamento.

Por isso, o Senhor, ao citar essa profecia, indicou que os judeus não se converteriam ao Messias. Portanto, os dias deles estavam acabados e a destruição seria inevitável.

Cabia aos cristãos esperar esse juízo, e fugir dele o mais depressa possível.

Como essa profecia se cumpriu, então?

Antes de entrarmos em um rápido resumo histórico, quero apenas destacar um fato: os eventos que eu considerei profetizados por Jesus nesse texto não foram anunciados somente ali. Na verdade, o Salvador falou deles com muito mais clareza nos Evangelhos de Mateus (capítulos 23 e 24), de Lucas (capítulo 21) e de Marcos (capítulo 13).

Independentemente da veracidade da interpretação apresentada acerca da passagem de Mateus 13, as passagens e fatos que citei e ainda citarei certamente ajudarão a entender o contexto histórico do primeiro século e também o Ministério da Jesus.

Vamos agora analisar a linha do tempo de acontecimentos desde a Ressurreição do Senhor até o cumprimento dessa profecia.

Após a morte e Ressurreição do Senhor, os apóstolos começaram a pregar (aproximadamente 30 d.C).

As primeiras comunidades cristãs foram rapidamente formadas, e, de início, eram compostas principalmente por judeus convertidos ao Cristianismo. Alguns ainda iam no templo de vez em quando e seguiam, em certos casos, a Lei Cerimonial de Moisés. Obviamente, eles deixaram de oferecer sacrifícios pela expiação dos pecados, pois Cristo já havia sido o sacrifício pleno.

Entre o ano 33 até 36 d.C, ocorre a conversão de um fariseu chamado Saulo, após uma visão miraculosa. Ele se torna um ministro cristão.

Com esse evento, o Cristianismo começou a se tornar um movimento cada vez mais internacional. O Evangelho começou a ser propagado com mais intensidade para povos pagãos por meio das viagens missionárias de Saulo (agora Paulo) e Barnabé.

Leve em conta que, após o império desastroso de Calígula (37–41 d.C), a tensão entre judeus e romanos na Palestina estava cada vez mais intensa, mas, pelo menos até ali, uma guerra aberta não havia eclodido.

Em 45d.C, os líderes da Igreja Cristã se reúnem no primeiro Concílio Geral, e decidem que não era necessário que os pagãos convertidos se circuncidassem para que se tornassem cristãos.

Começam a ser escritas as cartas Paulinas, as epistolas universais da Bíblia, e os Evangelhos.

Mas será que Jerusalém, a cidade santa, ia mesmo cair?

Valia a pena acreditar que a geração que crucificou Cristo seria punida por Deus (Mateus 23:36)?

Sem dúvidas a tensão começou, com o passar dos anos, a se espalhar pelas comunidades religiosas próximas à Jerusalém.

Aproximadamente no início da década de 60 d.C, alguns cristãos convertidos a partir do Judaísmo começam a se sentir tentados a voltar a observar as Leis relacionadas a sacrifícios pelos pecados.

O objetivo era simples: parar de sofrer perseguição por parte dos judeus.

Mas tinha um problema.

Se fizessem isso, eles voltariam para a Antiga Aliança. Eles negariam a morte sacrificial de Cristo.

Para impedir essa tendência, um pastor desconhecido (talvez Paulo, mas ninguém sabe ao certo) escreveu uma carta que hoje é denominada de Hebreus. Nela, vemos indícios de que o fim da velha ordem estava muito próximo:

“Quando ele diz “nova aliança”, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer.” 

Hebreus 8:13

Os líderes cristãos garantiam que a Antiga Aliança ia acabar. Os judeus haviam sido ensinados desde a infância o contrário, que Jerusalém duraria até o dia da Ressurreição.

Foi uma época de bastante indecisão.

Para um judeu convertido, com o cerco aos cristãos aumentando por parte do Império e dos judeus, voltar para o judaísmo parecia uma decisão bastante viável.

A promessa de Cristo que a geração que o ouviu veria a destruição de Jerusalém (Lucas 21:20–24) parecia cada vez menos real. Por que acreditar?

Você acreditaria?

Espero que sim.

O tempo foi passando. Alguns desistiram de ser cristãos. Por que sofrer tanto por um suposto Messias?

Por que amar um homem que morreu crucificado?

“Vou é voltar para o antigo, é o que sempre deu certo. Esse pessoal cristão sofre demais nesse negócio de evangelho”

Algum apóstata em talvez 65 d.C

Paulo e Pedro, os maiores pregadores do cristianismo, foram executados na primeira metade da década de 60. Os outros apóstolos, dispersos pelo mundo (com a exceção de Tiago, irmão do Senhor), estavam longe demais para fortalecer aquelas comunidades judaico-cristãs.

Mas, no ano 66 depois de Cristo, algo muda.

Começam a ocorrer grandes distúrbios políticos na cidade. Pelo que conta a história, alguns pagãos começaram a sacrificar aves perto de uma sinagoga (conforme relatado por Josefo). Isso causou um caos religioso, que culminou depois em uma rebelião armada.

De uma rebelião armada, descambaram para uma Guerra.

Estava dada a largada da Primeira Guerra Judaico-Romana.

Cerco de Jerusalém, por Francesco Hayez.

A espera havia valido a pena.

De acordo com os Pais da Igreja Eusébio de Cesareia e Epifânio, os cristãos fugiram de Jerusalém para a cidade de Pella (em Decápolis), mas o ano não é fornecido nas fontes. Pode ter ocorrido entre 67 até 69 depois de Cristo.

Com a fuga, os cristãos saíram da cidade dos seus mais impiedosos perseguidores. E deixaram para trás um Titanic que sabiam que iria afundar.

Em 70 d.C, durante uma das guerras mais violentas da história antiga, o General Romano Tito invadiu a cidade de Jerusalém, queimou o templo e matou ou escravizou o povo que nela habitava.

Flávio Josefo conta relatos dos mais assustadores sobre esse combate. Diz ele que a fome e a pobreza na cidade estavam tão graves que a mulher do Sumo-Sacerdote, acostumada ao luxo dos palácios, começou a procurar comida no lixo… As histórias relatadas em seus livros são, no mínimo, chocantes.

Segundo esse relato do historiador judeu, um milhão e cem mil pessoas foram mortas durante o sítio, sendo a maioria delas parte do povo de Israel. Mais de 97.000 foram escravizados pelos romanos.

De acordo com Filóstrato, em “Vida de Apolônio de Tiana”, Tito se recusou a aceitar a coroa de ervas, condecoração militar romana pela vitória, afirmando: “não há mérito em vencer umas gentes abandonadas pelo seu próprio Deus”. Certamente que, conhecendo todo esse contexto, você entende quão assustadora e verdadeira essa frase é.

A destruição de Jerusalém dividiu para sempre o Cristianismo e o Judaísmo, e até hoje é lamentada pelos judeus ortodoxos…

Em um tempo em que muitos cristãos se sentem incentivados a abandonar as verdades mais “ofensivas” do Cristianismo, que nos lembremos do apóstata que achou que ia valer a pena. Que andar no caminho do mal não teria graves consequências.

A destruição daquele ímpio, assim como será a dos apóstatas de nossa era, foi súbita e repentina, e o Senhor o arrancou pela raiz por ter abandonado a raiz de Jessé.

A história dessa possível profecia do Senhor Jesus a partir de uma citação aparentemente simples nos dá força para seguir no bom caminho, e nos incentiva a continuar sempre estudando a Palavra.

Nunca vale a pena olhar para trás. As coisas velhas já passaram.

Uma resposta em “A profecia de Jesus que ninguém entendeu”