Devemos dar graças a Deus por Ele não permitir que a maior parte de nossa vida seja vivida em tempos de crise. Se assim fosse, com certeza bem poucos de nós conseguiríamos suportar uma vida de constantes sofrimentos e também de muitas perdas.
Como tudo na vida é um aprendizado, devemos olhar a crise pelo seu lado positivo. Percebe-se algo típico de nossa índole: quando estamos em tempos difíceis e tudo indo de mal a pior, parece que tudo tem certo significado espiritual.
Afinal, tudo está em jogo, inclusive a vida. Nesse período, se pensa para falar, procura-se ouvir conselhos e não se faz nenhuma ação frívola. É interessante lembrar que até Deus nessa hora é lembrado quase que o tempo todo e até parece que o nosso relacionamento com Ele, quando somos cristãos, é perfeito. Como diz Paulo, a força de Cristo se aperfeiçoa na nossa fraqueza. Infelizmente, isso na maioria das vezes ocorre somente em tempos de crise.
Já no período da bonança, quando as coisas estão indo bem, o nosso interesse por Deus fica bem restrito. Na calmaria, ficamos preocupados conosco somente, focados em nossos prazeres e desejos. A religião se torna banal, é reduzida apenas a fazer perguntas sobre Deus. Aí, fazemos questionamentos, desafiamos a Deus e até nos queixamos Dele. Consideramos a adoração a Deus como um simples hobby, de acordo com nossa conveniência.
Nem nos importamos com a vontade de Deus, e o que ele pensa sobre os assuntos da vida. Nessa época realizamos atividades comuns da vida como se Deus estivesse completamente alheio à situação e ao cotidiano. O profeta Malaquias contempla exatamente essa situação em sua época. Ele identifica uma crise numa época em que ninguém iria imaginar que essa crise existisse.
O profeta nos desperta para a crise relacionada a Deus no tempo em que a única coisa em que estamos interessados é em nós mesmos. Ele nos deixa cheios de expectativa e curiosidade para saber o que Deus tem a dizer. É o profeta Malaquias que registra as últimas palavras das Escrituras do Antigo Testamento.
As últimas frases dessa mensagem fazem menção às duas figuras, Moisés e Elias. A figura de Moises indica que devemos nos manter firmes e arraigados no que Deus fez e disse no passado. Elias, por sua vez, é para nos manter atentos em relação ao que Deus fará no futuro.
Autor
Este livro é atribuído a Malaquias. Esse nome em hebraico significa “mensageiro” ou “mensageiro do Senhor”. Alguns estudiosos afirmam que Malaquias é apenas um título atribuído ao autor pela tradição. Essa ideia tem sido reforçada quando se recorre a tradução grega (Septuaginta), em que o termo 1.1, aparece como “seu mensageiro” e não como nome próprio. Essa questão permanece incerta, e ainda continua bem provável que Malaquias fosse mesmo o nome do autor.
Não sabemos praticamente nada sobre o autor, exceto o que nos é revelado acerca de sua personalidade através desse livro. Como no caso de Obadias e Habacuque, que o nome de seus pais e seu local de origem não são revelados, tampouco sua profecia está associada no subscrito a alguma época especifica da história. até o nome do profeta é incerto, pois, Malaquias significa simplesmente “meu mensageiro” (traduzido em 3.1).
Para alguns estudiosos, portanto, Malaquias é considerado apenas meu mensageiro, em vista da ausência de como nome próprio no restante do Antigo Testamento.
Data de Escrita
O livro de Malaquias não nos oferece nenhuma indicação clara sobre a data de sua composição. Porém, a maioria dos estudiosos concordam que Malaquias é um contemporânea de Esdras e Neemias, em meados do século 5 a.C.
Propósito e Contexto
Após estudar a história do livro, temos uma noção de que o ministério de Malaquias aconteceu aproximadamente cem anos após o decreto de Ciro, em 538 a.C. que pôs fim ao cativeiro babilônico e também permitiu que os judeus retornassem a sua terra natal e reconstruíssem o templo. E isso aconteceu cerca de oitenta anos depois que Ageu e Zacarias encorajaram a reconstrução do templo com promessa de benção de Deus e com o anúncio do enxerto das nações, prosperidade, paz e retorno da presença do próprio Deus. Para os contemporâneos de Malaquias, que já estavam praticamente desiludidos, essas previsões podem ter parecido uma zombaria.
Em contrastes com as promessas, a dura realidade que eles viviam era de privação econômica, seca prolongada, fracasso na colheita e Pestilência ( Ml 3.10 ss). Depois do retorno do exilio, Judá continuou com um território quase insignificante com aproximadamente 32×48 km² e tinha naquela época uma população de provavelmente 150 mil pessoas.
Apesar de desfrutarem dos benefícios da esclarecida política persa de tolerância religiosa e autogestão limitada, os judeus sentiram intensamente sua subjugação a uma potência estrangeira e experimentaram a oposição persistente de seus vizinhos. Judá já não era mais uma nação independente e nem era governada por um rei Davídico. O pior de tudo isso é que, apesar das promessas da vinda do Messias e da gloriosa presença de Deus, o que Israel experimenta é somente a miséria espiritual.
Ao contrário dos livros bíblicos dos períodos anteriores, os livros pós exílicos de Esdras, Neemias e Ester são notadamente sinceros em sua descrição de Judá como geralmente carente de evidências miraculosas da presença de Deus. Vemos isso em contraste com o templo de Salomão e a promessa do templo restaurado, como narram os capítulos 40 a 43.
O atual templo pós exilio era física e espiritualmente inferior. De acordo com texto de Malaquias 3.1 indica, o Santo dos Santos, no segundo templo, não tinha manifestação visível da glória de Deus. Embora, Deus estivesse vivo, como é revelado por suas notáveis providências no livro de Ester, esse foi um período em que o povo de Deus teve que viver mais por fé do que por vista.
Visão geral do livro do profeta Malaquias.
O oráculo do profeta Malaquias vem por meio de seis duras disputas entre Deus e o povo, e todas têm a mesma causa fundamental: era um tempo de desilusão espiritual, pois Israel cansou de Deus e de guardar sua aliança.
Essas disputas são registradas em duas séries de três. A primeira série enfrenta a questão básica. a queixa de que Deus não os ama ( 1.2-5), e a queixa de Deus de que eles demonstraram desprezo por Ele ( 1.6–2.9 ;2.10-16). Na segunda série, Deus enfrenta duas vezes a queixa deles de que Ele não fez nada em relação ao mal e a injustiça ( 2.17–3.5; 3.13–4.3); essas duas passagens enquadram a exposição de Deus da injustiça dos próprios israelitas( 3.6-12). Ao mesmo tempo essas séries de palavras afirma que o grande dia de fato virá ( 3.1-4;3.17–4.3). O livro é concluído em (4.6) com palavras sobre a lei (Moisés) e os profetas (Elias).
Orientações sobre o livro de Malaquias
De forma alguma não temos certeza de quando Malaquias profetizou, se foi logo após ou imediatamente antes do tempo de Esdras e Neemias, como parece ser. O livro de Malaquias é um indicador claro da apatia moral e espiritual do período, que se revelava em várias formas de desprezo por Deus e pela sua aliança. Vemos que a maioria dos pecados relacionados em Malaquias também são mencionados em Esdras e Neemias.
São eles: casamento mistos ( Ml 2.11-15; Ed 9–10 e Ne 12.23-37), não dar o dizimo ( Ml 3.8-19; Ne 13.10-14), sacerdotes corruptos ( Ml 1.6–2.9/Ne 13.1-9), e injustiça social ( Ml 3.5/ Ne 5.1-13). Esse mal-estar social e esse desprezo pela aliança, ambos generalizados, provavelmente explicam em parte a forma e a estrutura única de Malaquias.
Podemos observar que cada uma dessas disputas tende a seguir o mesmo padrão:
Declaração: a questão é anunciada por Deus
A Pergunta do povo: basicamente assumindo a forma de um “como assim?”.
A Resposta de Deus: lembrando-os das ações divinas passadas ou vindouras, ou revelando os atos deles que demonstram desprezo.
Essas palavras servem como um chamado para despertá-los num tempo de desilusão, no qual os que haviam voltados da Babilônia e se sentiam abandonados por Deus. Portanto, em vez de um contexto de corte judicial, como em Oseias e Miquéias. Deus os desafia por meio de declarações, perguntas e explicações.
Pode-se observar certa progressão nessas palavras. Elas começam com Israel questionando o amor de Deus, sua compaixão por eles e sua lealdade a eles. A isso, Deus responde que Ele de fato os ama, Ele fala: “vejam o que fiz com Edom”. Mas existem também muitas evidências de que eles próprios não amam a Deus, pois tanto os sacerdotes quanto o povo demonstravam desprezo pela aliança oferecendo animais defeituosos em sacrifício ao Senhor e realizando divórcios e casamentos mistos com pagãos. As três últimas disputas recomeçam esse ciclo. Povo estava sentindo abandonado por Deus, e eles falam cinicamente da prosperidade daqueles que praticam a injustiça. Porém, Deus responde que eles próprios praticam injustiça quando retém o dizimo, que era o meio de vida dos levitas e a provisão dos pobres.
Nessa segunda série de disputa também há garantias da justiça vindoura de Deus: o julgamento dos maus e a salvação do novo remanescente justo do Povo de Israel.
Principais assuntos deste livro
Capitulo 1.1
Assim como no livro de Joel, o título de Malaquias não nos ajuda a identificar nem o profeta e nem seu período.
O discurso de Malaquias ao despertamento a renovação da fidelidade. em seis etapas. Versos 1.2-5.
Primeira disputa: sobre o amor de Deus
Podemos observar que essa primeira disputa estabelece o tom e a estrutura das demais. Deus de fato os ama. Como assim? Pelo fato de odiar (rejeitar, alinhar-se contra) o irmão, ainda que antigo inimigo, de Israel, Edom, cumprindo assim a profecia de Obadias.
Segunda disputa: sobre a oferta de sacrifícios inaceitáveis (1.6–2.9)
Agora vemos que é a vez de Deus. O problema básico é apresentado em 1.6. os sacerdotes não amam, eles mostram desprezo por Deus. como assim? Eles não o amam porque ofertam para Deus animais defeituosos, coisa que eles não ousariam a oferecer para um governador. Melhor é encerrar as atividades no templo do que demonstrar tamanha deslealdade (1.10-14), que também desonra o nome de Deus entre as nações.
Essa disputa termina com uma séries de admoestações aos sacerdotes para que eles se corrijam de suas práticas ( 2.1-9).
Terceira disputa: sobre o casamento misto e o divórcio (2.10-16)
A forma aqui muda um pouco. Malaquias agora fala por Deus (vs.10), a disputa é tratando do próprio povo quanto a questão do casamento com os pagãos (v 11,12), que constituiu um rompimento da aliança com Deus (capitulação à idolatria).
A questão do divórcio (13-16) também é relatada: alguns estavam dispostos a romper a aliança com uma esposa do povo judeu para se casar com uma mulher gentia.
Quarta disputa: sobre cansar a Deus com palavras (2.17–3.5)
Voltamos à queixa do povo. Em seu atual mal estar, cinicamente chamam bons aos maus e indagam sobre justiça. A esse mal estar, a resposta de Deus é dupla, primeiro: o Senhor que eles buscam virá subitamente ao seu templo, como um fogo purificador. Segundo: sua vinda resultará tanto em sacrifícios aceitáveis no templo, voltando aos versos 1.6–2.9, quanto em juízo contra todas as formas de injustiça (3.3b-5).
Quinta disputa: sobre voltar a Deus (3.6-12)
Podemos observar como essa disputa segue de perto o que é dito no fim da anterior, devolvendo a responsabilidade a eles: são eles próprios que devem voltar para Deus ( 6,7). Como assim? Deles, a resposta deve ser cessar a forma de injustiça que praticam como por exemplo, a retenção do dizimo, que consistia em alimento destinado aos levitas e também aos pobres.
Só dessa forma que a maldição pela deslealdade à aliança pode ser removida, para que as nações possam ver novamente a benção de Deus sobre seu povo (Gn 12.3).
Já a Sexta e última disputa é sobre o falar duramente de Deus (3.13–4.3)
Essa disputa final encerra a segunda série de três disputas e traz o livro todo ao ponto inicial. Ela nos indica porque a primeira disputa foi necessária:
O povo anda dizendo coisas duras sobre Deus e até dizendo que é inútil servi-lo, e que, seja como for, eles veem que os arrogantes prosperam, ao contrário daqueles que se julgam justos. Assim, a resposta final indica que Deus de fato dividirá a casa: os arrogantes serão jugados (4.1), e nascerá o sol da justiça para os justos (4.2,3).
Conclusão
O profeta Malaquias encerra seu livro incluindo Moisés (a Lei) e Elias (os profetas) ao quadro. O povo é ensinado a guardar a aliança da Lei: eles podem antecipar a vinda de um segundo Elias, que procederá o grande dia da manifestação do Messias, o Filho de Deus, em Sua Primeira Vinda. Malaquias lembra ao povo de Deus que eles devem levar a sério o relacionamento da aliança com Deus, e que um novo grande dia amanhecerá sobre eles com a vinda de Elias (João Batista), que precederia o Senhor Jesus!